As Minas e suas lutas- Paulistas e Emboabas .
HISTÓRIA DE MINAS GERAIS, AS MINAS SETECENTISTAS.
A partir de 1550,quando as primeiras cabeças de gado chegaram à Bahia vindas de Cabo Verde, apecuária bovina se disseminou por toda a América Portuguesa, em especial noNordeste e, mais tarde, no extremo Sul.Ao longo das margens do rio São Francisco- que ficou conhecido como "rio dos currais", em razão de seus pastos,depósitos e barreiros de sal -, proliferaram inúmeras fazendas e currais, muitosdos quais chegaram a se instalar em território mineiro antes mesmo da divulgaçãodas notícias da descoberta de ouro. O Mapa da maiorparte da Costa,e Sertão,do Brazil, extrahido do originaldo Pe. Cocleo,de datação aproximada de 1699170211(FIG. 3), expressa a intensidade desse tipo de ocupação, registrando apresença de incontáveis fazendas em território mineiro, e até nominando váriasdelas, concentradas principalmente entre as desembocaduras dos rios Carinhanhae das Velhas.Sem dúvida, essas extensas vias de articulação contribuíram para que "peloscaminhos do Certão, Bahya e Pernambuco laborasse o negocio de fazenda seca emolhados, gado vaccum e cavallar, escravos e o mais que se julgava ter sahidaem huma nova povoação".A Bahia apresentava condições particularmente favoráveis para se consolidarcomo um importante centro abastecedor das Minas: facilidades geográficasde comunicação, tanto por via fluvial quanto pelos caminhos mais amenos abertos pelo gado; uma posição consolidada de centro importador em razão de suaproximidade da Europa e do acesso aos portos do Sul da Colônia; ser de povoamentoantigo, já com um comércio bem aparelhado; e ainda vivenciando osreveses da economia açucare ira em decorrência da concorrência antilhana, oque impunha a necessidade de se buscarem alternativas econômicas.Visando impedir os descaminhos do ouro, a Coroa não demorou a estabelecerinstrumentos regulatórios para controlar esse intenso fluxo mercantil quefavorecia os descaminhos do ouro, proibindo o comércio entre Bahia e Minas,com exceção do gado vacum, dada sua importância no abastecimento alimentare como força motriz e meio de transporte. Mesmo assim, não só o gado vacum,mas outras fazendas e escravos vindos da Bahia continuaram sendo contrabandeadospara as Minas, fazendo com que tais caminhos se consolidassem e aindaque outros - na forma de picadas, atalhos e desvios - fossem abertos, fIxandopopulações em inúmeros arraiais nascentes. A proibição desse caminho perdeuo sentido com a instauração do regime de capitaçãol6 na década de 1730. Poroutro lado, quando extinto esse regime, em meados do século, ganharam importânciaos registros situados no interior da capitania, o que só fez avançar arede clandestina de rotas mercantis.------------------------------------------------------------------------------------------------Se o Nordeste abasteceu a região Norte das Minas com a carne, o couro e aforça motriz do gado, também o Sul da colônia forneceu tais produtos. Essademanda fez com que, sobretudo os paulistas, fossem estabelecer currais noscampos de Paranaguá e Curitiba, ampliando as ligaçõesmercantis com as áreascriadoras do sul e confins do Prata - Rio Grande, Viamão, Missões, Colônia deSacramento, Montevidéu, Buenos Aires, Corrientes, Entre Rios, etc. - com reflexosno povoamento da fronteira sulina. Também cavalos e, sobretudo, muares,eram levados até as vilas próximas a São Paulo, principalmente a de Sorocaba(erigida em 1661), onde eram comercializados.A feira de Sorocaba, a maior emais famosa da colônia, tornou-se importante centro distribuidor.------------------------------------------------------------------------------------------------CARTA PEDINDO O FIM DA INTERDIÇÃO DO CAMINHODeclarando sua sincera vontade de "acertar no serviço de Sua Majestade",enfatiza o governador Luís César de Meneses que não era possívelnem desejávelvedar quaisquer dos caminhos gerais para as minas e que se devia conceder aliberdade de entrar e sair delas pelos referidos caminhos a todos e a tudo, deforma geral ou combinada com algumas condições e limitações. Referindo-seem particular ao Caminho do Rio de São Francisco, elabora um grande arrazoadopara justificar a suspensão desse interdito, batendo no argumento maisgeral de que nada, até aquele momento, havia conseguido fazer com que fossesuspenso o trânsito através dele.Afirmando que os lavradores de cana não abandonariamsuas atividades em função do rush minerador e deixando de lado oproblema da defesa das capitanias do Norte, o autor reduz toda a questão doscaminhos à evasão fiscal dos quintos. Argumenta que o papel exercido peloCaminho do Rio de São Francisco no abastecimento das minas - com relação aescravos, tecidos, gado, cavalos, sal e farinha principalmente - até então, basicamentedePendente da região Norte, não poderia ser suprido, em preços equivalentes,pelo Rio de Janeiro. E salienta, no que se refere ao gado, o seu significadode mercadoria com a qual nem o Rio de Janeiro nem São Paulo tinham condiçõesde abastecer as Minas.Finalmente, sugere que se deveriam estabelecer casas de fundição nas paragensmais adequadas dos ditos caminhos, com oficiais de reconhecida fidelidade eguarda própria, sem mais qualquer aparato controlador, nem mesmo guardaspelos caminhos, obrigando-se, por lei "expressa", a todos que saíssem das minas afundir, quintar e registrar todo o ouro que trouxessem consigo, sob pena de quetoda pessoa ou pessoas que dos limites da dita casa ou casas para baixo seacharem com ouro por quintar, por marcar e sem os sinais que nas barras semandarem pôr o percam para o fisco e para quem os denunciar, e isto se deveentender com toda qualidade de pessoas em cuja mão se achar o ouro, ouseja trazido por elas das minas, ou comprado a terceiro nas praças ou dequalquer sorte que lhe viesse à mão, sendo por quintar, seja por essa razãoperdido. (Das Villas, p. 465i)Ainda na análise do manuscrito Das Villas, é preciso considerar também olugar de sua produção. Seu autor nos fala da Bahia, de Salvador precisamente, eé ele próprio quem confere aos paulistas a descoberta do caminho de ligação deSão Paulo pela via do sertão com as capitanias do Norte. Caminhos que forammelhorando e provendo os primeiros recursos de infra-estrutura - possivelmente,como já se disse, uma antiga trilha indígena. Vale aqui reproduzirmos aepígrafe que abre este estudo:Das Vilas de São Paulo para o Rio de São Francisco descobriram os Paulistasantigamente um caminho a que chamavam Caminho Geral do Sertão, peloqual entravam e cortando os vastos desertos que medeiam entre as ditasVilas e o dito Rio nele fizeram várias conquistas de Tapuias e passaram aoutras para os sertões de diversas Jurisdições, como foram Maranhão, Pernambucoe Bahia, sendo para todas geral o dito caminho até aquele termofixo que faziam nesta, ou naquela parte do Rio de São Francisco, em o qualmudavam de rumo conforme a Jurisdição, ou Capitania a que se encaminhavam,ou conveniência que se lhe oferecia; e com tão continuada freqüênciafacilitaram o trânsito daquele caminho que muitos deles transportando porele suas mulheres e famílias mudaram totalmente seus domicílios de SãoPaulo para as beiras do dito Rio de São Francisco, nas quais hoje se achammais de cem casais, todos paulistas, e alguns deles com cabedais muito grosso.Em outro tópico do manuscrito, o autor volta a confirmar a primazia dospaulistas na ocupação das beiras do rio São Francisco. Tratando da suspensãodo interdito do Caminho do Rio de São Francisco, após a afirmação de que essecaminho para a entrada nas minas é melhor que o do Rio de Janeiro e o de SãoPaulo, argumenta que, na volta, esse caminho é também melhor. A razão seria ofato de que nas matas das minas se fazem "grandes e boas canoas", podendo osviajantes embarcar no rio das Velhas, entrar no rio São Francisco e chegar em 15dias à cachoeira de Paulo Monso. Para o governador, esse meio de transporte,"breve, suave e de pouco custo", é o preferido por evitar a compra de cavalosque, nas minas, em razão do preço alto e porque acabada a viagem, os viajantesos vendiam pelo dobro do preço de compra. E considera:[...] pois só nas matas delas [minas] se fazem todas as de que se usa no Rio deSão Francisco da dita cachoeira para cima, porquanto só naquela parte hápaus capazes de as fazerem, e antes de se tirar ouro naqueles distritos asfaziamosPau listas epor negociação as vinham vender pelo rio abaixo. (Das Vil/as, p.463p, grifo nosso)Após considerar por vários ângulos a superioridade do Caminho do Rio deSão Francisco sobre os demais caminhos, tanto para a entrada quanto para asaída das minas, como argumento final, e contundente, para demarcar a inviabilidadedo interdito em vigor, refere-se o Governador ao fato de os viajantesencontrarem nesse caminho facilidade de hospedagem e outros provimentos.Para isso, esclarece ao rei queo Rio de São Francisco desde a sua barra que faz no mar junto a Vila doPenedo até a barra que nele faz o Rio das Velhas, em cuja altura se achavamas últimas fazendas de gados de uma e outra banda do Rio de São Francisco,não tinha parte despovoada, nem deserta, tendo às suas margens, ou próximoa elas, várias povoações.
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sexta-feira, 23 de abril de 2010
CAVALOS DO SERTÃO DO SÃO FRANCSICO PERNAMBUCO E BAHIA
Postado por Gilberto Diniz Junqueira às 12:57
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3 comentários:
Muito interessante. Riquesas naturais pareçem sempre atrasar o desenvolvimento dos estados e países...Vide MG, RJ, os estados do Norte e até mesmo países como os do oriente médio.
É preciso muito cuidado com esses bens da natureza que inebriam e muitas vezes enriqueçem poucos e impedem o desenvolvimento...
São Paulo nunca teve esse privilégio, tudo que tem deve-se a produção. Pareçe até que a paisagem discreta e nossa melancólica garoa favoreçem o impeto dos trabalhadores e produtores incansáveis.
Sou Pernambucano de nascimento mas paulista de todo coração.
Cada vez mais cresce minha admiração por esse estado e pelo cavalo Mangalarga que participou grandemente do seu desenvolvimento.
Mas no caso o assunto é a outra face das minas ,aquela voltada para o mercado interno e sua redes de caminhos que interligou o Brasil.
Um local comum a quase todos os caminhos era a Encruzilhada ou Cruzilia, perto de Baependi, terra onde nasceu a família Junqueira e o cavalo Mangalarga.
Era onde o caminho velho de São Paulo o caminho novo do Rio de Janeiro e o caminho de Paraty se uniam para as minas .
Era também próximo do caminho geral do sertão, que ligava São Paulo ao sertão do São Francisco.
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